Visão racional da crise: uma realidade de transição

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Interessante discutirmos o que de fato é uma crise de proporções mundiais e o que está acontecendo nas atuais circustâncias globais com epicentro americano.
De forma negativa podemos pensar na crise de crédito americana como sendo o prenúncio de algo poderoso e que levara as grandes economias ao fim dos tempos. Exagero?
Sim. De fato, crises verdadeiras se dão por guerras devastadoras e falta de insumos essenciais como fontes de energia, alimento e água. Isso poderá ocorrer?
Infelizmente sim. Neste momento teremos uma crise verdadeira.
E os eventos econômicos atuais, o que podem significar? Ao meu ver volatilidade, muita volatilidade no mercado que pode ter como decorrência, a oportunidade inteligente. Neste momento é hora de formarmos nossas carteiras com perspectivas de longo prazo e a construção de nossa sólida aposentadoria ou pelo menos um pé de meia a um projeto de vida maior.
Bons investimentos.


Como distinguir as grandes crises mundiais das pequenas



Marcos Elias (Valor econômico)









A atual crise americana é pequena. É uma crise de crédito, e não de liquidez, e que custará algo entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão. Não são números grandes para a economia americana que, voluntariamente, decide gastar algo parecido no Iraque. E o que é uma crise grande? Uma bem grande funcionaria mais ou menos assim: hoje, como lá a maré não está para peixe, a família compensa a inflação de commodities com uma deflação nos preços de alguns serviços. É simples de entender. John abastece (sozinho) o tanque de seu Plymouth Belvedere 5.0 V8 e gasta US$ 80,00. Coça a cabeça e pensa: "A gasolina aumentou de US$ 2,00 para US$ 3,00 o galão". Volta para casa e diz para Mary que não jantarão no Wendy's mais naquela noite porque gastou sua cota diária com a gasolina. Na verdade, William, o franqueado da Wendy's tem sentido seu restaurante esvaziar e já há algumas semanas pediu ao franqueador que bolasse combos mais baratos. A inflação do preço do petróleo tem induzido uma deflação nos preços dos hambúrgueres. Além disso, a China ainda funciona como uma espécie de "Volta Redonda" ou de "Cubatão" dos americanos. Produzem e exportam muito, controlando os preços dos produtos nos EUA e refinanciando com os ganhos da exportação seus déficits magníficos. Essa "racionalidade" na economia familiar americana só não funciona no Natal e no Dia de Ação de Graças: aí, John não quer nem saber, e gasta tendo ou não dinheiro. É como se Deus avalizasse seu comportamento... Mas chega um dia, digamos, daqui a cinco anos (porque somos otimistas), a economia americana volta a se aquecer. E o coitado do William, que passou por maus bocados, não quer nem saber: aumenta os preços. Volta o poder de barganha da indústria de consumo e com ela a inflação. Mas o planeta Terra não são apenas os EUA (embora eles consumam e sujem como se fossem): somos 7 bilhões de pessoas hoje (não daqui a cinco anos). Então, os chineses também querem consumir: beber água de vez em quando, ganhar mais de US$ 100,00 por mês, etc. Ressaltemos que hoje a China e Índia apresentam padrões de consumo per capita "africanos". Com o aquecimento interno do consumo, vem a inflação na China. O petróleo (como já exploramos mais de 50% das reservas existentes no planeta) não cai mais de preço. O carvão virou ouro. A Vale a maior companhia do mundo. A Antártida vira um imenso campo de peladas. O mundo entra em convulsão. O que estará em disputa? Alimentos e água. Quem será o salvador do planeta do Armagedom? O Brasil. E isso não será porque ressuscitaremos nosso herói nacional, Macunaíma, o "herói sem nenhum caráter". Será porque temos terra fértil, muita água, clima bom e mão-de-obra desqualificada. Esse quarteto nos consagrará como líderes mundiais. E todos estes fatores deverão vir juntos. Porque, por exemplo, água não é um problema se faltar, o preço aumenta, e dessalinizaremos os oceanos. Todos quererão comer em 2013. Hoje, poucos comem. Um boi precisa beber muita água durante sua vida: quando pesa 500 quilos, terá consumido 20 mil litros de água. Me ajudem nessa conta: em alguns países, cobre-se o boi com cobertor térmico, mas aqui não precisamos disso. E quem já visitou um frigorífico sabe que é muito intensivo de mão-de-obra, e não há como automatizar esse processo. Cada boi é diferente de outro e todas as partes são aproveitadas. Então, em uma linha frigorífica pequena, alinham-se 100 homens e mulheres, ombro encostado no ombro, a descascar o boi que passa. Então, o alimento - não estou me referindo aos alimentos prontos para comer: não imagino que a linha Miss Daisy poderá acabar com a fome mundial -, será disputadíssimo e o Brasil o grande provedor. Exportar carne é exportar água concentrada. E, nessa linha de raciocínio, pergunto-me se não será uma Friboi a nossa próxima Vale. Produzimos carne hoje ao menor custo do mundo (US$ 2,5/kg) e, por questões meramente políticas, somos grandes exportadores de carne para o Egito, Bulgária, Irã, etc. Há alguma coisa errada nisso. O maior rebanho do planeta, 200 milhões de cabeças, tem como grande cliente o Egito? Vale lembrar que há quem diga que temos 160 milhões apenas porque temos matado muita vaca por conta do preço ruim.

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