Oportunidades sobre as garras do urso

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Nestas épocas onde só vigora a garra do urso (bear market - mercado de baixa- pra que não entendeu o trocadilho), sagrando os grandes e pequenos investidores, achei interessante traçar algumas oportunidades com base na velha e verdadeira escola fundamentalistas. Tabalhei com alguns critérios básicos para avaliar a saúde de boas empresas e estabeleci que a compra se daria pelo múltiplo P/VP, ou seja, preço sobre valor patrimonial. Assim, temos empresas com o valor de mercado que não pagam o simples valor de patrimônio da empresa que por definição é:



O patrimônio líquido representa os valores que os sócios ou acionistas têm na empresa em um determinado momento. No balanço patrimonial, a diferença entre o valor dos ativos e dos passivos e resultado de exercícios futuros na forma de reservas, representa o PL (Patrimônio Líquido), que é o valor contábil devido pela pessoa jurídica aos sócios ou acionistas, baseado no Princípio da Entidade.

Conforme disposto pela Lei nº 6.404/76, o Patrimônio Líquido é dividido em:

  • Reservas de Capital
  • Reservas de Reavaliação
  • Reservas de Lucros
  • Lucros ou Prejuízos Acumulados


Em outras palavras, é o capital imutável investido inicialmente pelos acionistas, reservas operacionais e de gestão obrigatória; e o lucro acumulado no passado.

As potencialidades de lucros e desempenhos futuros não são contabilizados, portanto, as principais variáveis para se calcular o preço justo ou intrísico da empresa não são verificados.

Bem, como exemplo, imagine que você tenha um carrinho de cachorro quente em um ponto bem lucrativo.

Valor do carrinho: 1000,00
Valor do equipamento: 300,00
Reservas para compra de insumos, impostos, aluguel do ponto, etc - 600,00
Lucro acumulado no passado e incorporado ao negócio - 400,00

Lucro gerado pelo negócio nos próximos 8 anos ajustados em valor presente - 90.000,00
Lucro gerado pelo negócio em perspectiva ad eternum em valores presentes: 100.000,00

Se temos dois sócios (2 ações)- O valor justo deste negócio seria a soma dos valores acima/2- 96.150,00

Ai você espertão diz:

- Não só pago o valor patrimonial (equivalente a 2300,00)/2 - 1650,00.

Supondo que venha uma pessoa e ofereça sociedade pagando 48075,00, assim, o mercado estaria disposto a pagar sobre o negócio em relação ao patrimônio líquido (valor equivalente ao garantido, existente, palpável) em torno de

P/PL = 48075,00/2300,00= 20,902. Se a empresa gerar 75% do lucro potencial, este camarada já levaria 50% de lucro sobre o valor investido ao longo do tempo.

O que pretendo fazer daqui pra frente. Analisar empresas que demonstram múltiplos fundamentalistas que demonstram "saúde financeira" e que tenham um P/PL menor ou igual a 1, portanto, grandes oportunidades de negócio.

Projeto lançado. Acompanhem!!!

"Grandes oportunidades ocorrem quando vigora a desilução".


Dinheiro no colchão.

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Sem muito ânimo para análises, vou deixar esta charge que melhor traduz o momento de incerteza.


Bons investimentos (ou sei lá o quê).


O lado positivo da crise para o Brasil

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Valor Econômico - 20 de outubro de 2008

É difícil encontrar alguém que consiga enxergar um lado positivo para a crise financeira atual. Pois bem, por incrível que pareça, para alguma coisa irá servir todo esse burburinho internacional, pelo menos para o mercado acionário brasileiro. O que se espera é que, gradativamente, o Índice Bovespa fique menos concentrado nas ações de commodities. Com a desaceleração da economia em termos globais, os investidores devem perder um pouco do enorme interesse que têm demonstrado pelos papéis dos segmentos de petróleo, mineração e siderurgia. Em troca, provavelmente, passarão a investir muito mais em ações de empresas voltadas ao mercado interno, mas que não têm uma correlação tão forte com o Produto Interno Bruto (PIB), como é o caso das companhias de telefonia e de energia elétrica. "Se essa crise conseguir fazer com que os índices sejam mais balanceados, no fundo, bem no fundo, ela já terá tido alguma utilidade", diz o economista-chefe da Way Investimentos e diretor do curso de relações internacionais da ESPM-RJ, Alexandre Espírito Santo. Ele lembra que entre os diversos contratempos, o fato de um índice tão importante quanto o Ibovespa ser muito concentrado acaba deixando os investidores à mercê dos acontecimentos em dois ou três setores. No caso da Bovespa a situação é ainda pior. Boa parte dos investimentos se concentra em apenas duas empresas: Petrobras e Vale. Na carteira teórica atual do Ibovespa que valerá até dezembro, as ações preferenciais (PN, sem voto) e as ordinárias (ON, com voto) da Petrobras têm peso de 18,21%, enquanto as PN série A e as ON da Vale representam 15,91%. Ou seja, as duas companhias juntas significam nada menos que 34,12%.
Essa concentração só aumentou nos últimos anos. Segundo levantamento de Espírito Santo, em dezembro em 2002, por exemplo, os papéis da Petrobras e da Vale representavam apenas 17%, portanto, a metade do que são hoje. Com o ciclo de alta das commodities nos últimos cinco anos, os investidores passaram a se interessar cada vez mais por papéis que conseguem capturar o máximo possível desse movimento macroeconômico. Os indicadores comprovam que essa euforia fazia todo sentido. O preço do minério de ferro, por exemplo, teve reajustes entre 65% a 80% este ano. Sem contar as mineradoras australianas que conseguiram aumentos de até 96%. Já o preço do barril do petróleo atingiu a máxima de US$ 145,29 também este ano. Até uns dois meses atrás, os analistas ainda estavam divididos sobre o destino das commodities. No entanto, depois do recente agravamento da crise internacional, não restam dúvidas de que a festa desses ativos está próxima do fim. E é com base nessa expectativa que Espírito Santo acredita que o reinado das ações de commodities está com os dias contados, pelo menos na magnitude que já foi. Apesar de ser difícil dizer com exatidão como serão as mudanças no Ibovespa, o professor e economista estima que a participação da Vale e da Petrobras podem cair dos atuais 34% para algo como 28% no fim de 2009. Esses seis pontos percentuais, na visão dele, devem migrar principalmente para os papéis de telefonia e energia. "Esses setores não são tão afetados pela desaceleração da economia global e ainda têm baixa correlação com o PIB brasileiro, que será afetado pela crise externa", diz Espírito Santo. Além disso, algumas das empresas desses segmentos são tradicionalmente boas pagadoras de dividendos, o que as tornam ainda mais atraentes nesse momento em que os retornos por meio da valorização das ações na bolsa parecem cada vez mais incertos. Não é à toa que os papéis das elétricas estão entre as que menos sofreram no chacoalhão que a Bovespa vem passando. "Com a alta das commodities nos últimos anos, as teles e as elétricas foram colocadas em segundo plano e agora esse cenário deve mudar", completa o professor.


Histórico bovespa de 1963 a 2008: uma verdadeira aula

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O pessoal da Enfoque Corretora, projetou um flash muito interessante que de forma didática e ilustrativa, mostra a história do índice bovespa em correlação a fatores econômicos, políticos e mundiais, entre 1963 a 2008. Clique na imagem abaixo e explorem este belo trabalho. Estudar sempre!

Suportes ao definitivo fim das vacas gordas e do trigo farto

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Ao pensar em uma crônica analítica para a atual situação fiquei intrigado com uma história bíblica que me lembro na época do catecismo (não me refiro aquelas revistinhas eróticas, mas ao da igreja de nossas tradicionais famílias brasileiras).


A história de José, um profeta e conselheiro do velho testamento que depois de abandonado e traído pelos irmãos, tornou-se o braço direito do faraó. O profeta em questão deveria interpretar um sonho do faraó que levaria as principais diretrizes políticas e econômicas do egito nos anos vindouros.


O sonho do grande monarca era descrito como 7 vacas gordas e cheias de leite pastando ao lado de 7 belos trigueiros. No fim, 7 vacas magras e feias comiam as 7 vacas gordas e 7 ervas daninhas cresciam e se sustentavam sobre o solo e a matéria podre dos 7 trigueiros. José, em sua sabedoria inspirada por forças divinas, interpretou o sonho como 7 anos de fartura e 7 anos de fome e miséria. O faraó, então, deveria armazenar alimentos e recursos durantes os 7 anos seguintes para manter e sustentar seu povo nos 7 anos de tormenta e depressão. Bom, no final das contas ele reecontra os irmãos traidores e o pai desesperado e depressivo pelo filho mais novo e os perdoa.

O que isso tem a ver com nossa atual situação? Bem, depois da crise de 2001, passamos por 7 anos de ganhos e lucros estupendos nas bolsas de quase todo o planeta. O que não suportamos é que não houve nenhum "José" que nos previa o momento de recessão e crise séria. NÂO estou dando uma de profeta do apocalipse gritando que passaremos 7 anos de fome e desgraça e que discos voadores levarão as almas mais puras antes do fim dos tempos (por favor, sem alarmismo vazio).

Na prática, quis realizar um estudo hipotético considerando uma única variável que nos indicaria uma tendência de baixa aterradora mesmo para aqueles que estão comprados a pouco tempo e não registraram quedas de suas carteiras de forma tão brutal como o IBOV (algo em torno de 40% desde o início do ano e 50% desde o ápice histórico alcançado pelo índice).

Estabeleci os suportes históricos dos 5 principais ativos do índice ibovespa verificados em 15 de outubro de 2008 (belo presente do dia dos professores). Abaixo listamos

*Participação no ibov em 15 de outubro de 2008
**Suporte histórico nos últimos 60 meses


Os gráficos abaixo respaldam os dados da tabela acima;

















Se os suportes históricos destes papéis que constituem o sustentáculo do ibov, podem representar a definitiva derrocada de quase todos os papéis listados na bolsa de valores. Nesta situação, estariamos ameançando o suporte de 30K pontos. Se perdido, temos um suporte histórico de 25K pontos visto em 2005 e 2006 e depois, se a catástrofe se estabelecer entre nós, veremos nossos trocos minguados em papéis atolados na lama histórica de 19K.




Só espero que as vacas magras e as ervas daninhas sejam apenas uma apologia bíblica.

Humor nos tempos de cólera: trilhas sonoras para nossos momentos na bolsa

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Original em www.charges.com.br

Quem sabe? Sobrevida a um(a) doente?

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Voltando a velha e xingada análise técnica (pelo menos nos últimos dias). Vamos a uma visão positiva (contrária ao do analista ao Valor Econômico visto no link abaixo). Com esta bela alta de hoje, por que não pensar nos testes das resistências em 44K. Temos uma bela expectativa de valorização da bovespa.
A todo o tempo esperamos um sinal de reversão. Pois bem, um belo morobozu de alta em 14% de aumento (pelo menos até aqui). Me parece um bom sinal de reversão.

Aos conservadores, superando a barreira dos 44K, a uma grande probabilidade de buscar os 47K e, dai, teremos a força compradora para retornar aos 52K. Só lembrando que os fundamentos da economia e das empresas brasileiras são mais sólidas dos que as vistas em outros emergentes e, nos dias atuais, até de alguns países desenvolvidos esbanjadores e deverás descuidados.



Aconteceu o que todos Temiam (Valor Econômico - 13 de outubro de 2008).

http://noticiasecontextos.blogspot.com/2008_10_13_archive.html

Experiências das Crises passadas

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texto de YankeePapah no fórum infomoney em 06 de outubro de 2008


Senhores,

Ao longo da minha vida acompanhei várias crises: 1964, 1967, 1973, 1986 e as várias dos anos 90. Além disso, alguns pacotes & planos econômicos com suas conseqüentes moedas: cruzeiro novo, cruzeiro, cruzado, cruzado novo, cruzeiro e finalmente o real atual (esqueci alguma moeda?).

Acompanho o mercado financeiro mais de perto desde os idos do início da década de 70. Nessa época, ainda estudante, ganhei um VW zero com os parcos recursos que um pobre estudante dispunha.

Corria o memorável ano de 1971, pleno milagre brasileiro, tri-campeão do mundo e com um futuro glorioso à frente; o presidente Médici pregava, como agora diz o berbe molusco, que o Brasil estava acima do mundo e que este ajoelhar-se-ia ante as evidências: "Ninguém segura o Brasil".

O obeso e infalível economista Herman Kahn, aquele do não menos controverso Hudson Institute, contestou todos os prognósticos brasileiros e foi execrado por todos aqui da grande terrinha.

Não demorou muito, apenas um ano e tanto, e veio a primeira grande crise global pós 29: a crise do petróleo. Em 1970 comprávamos petróleo a US$ 2.00 o barril, em 1973 foi a US$ 12.00! O resultado dessa crise, devido à guerra Árabe x Israel, ou como ficou conhecida: Guerra do Yon Kippur, foi um longo período de 10 anos de estagnação, inflação, conturbações políticas e outras tantas maladias.

O resultado prático, em termos 'bolsísticos' foi um longo e penoso período de baixa, crise de confiança no mercado e perdas de oportunidades.

A diferença é que agora a crise começou nos USA, onde, por razões óbvias, seria a última a sentir os efeitos do The Biggest Leverage, ou simplesmente, da picaretagem global. As razões são óbvias, menos pela capacidade dos americanos, mais pelo tamanho da sua economia. Todos sabemos que a inexorável e implacável lei da inércia aqui se aplica e prevalece. Indubitavelmente seremos severamente penalizados: nós brasileiros, o mundo e os americanos. Isto é inexorável.

Isto dito e posto fica a pergunta: o que fazer?

1. Está na hora de vender
Não tenha medo de realizar prejuízos. O conceito de stop loss é para ser aplicado nestas horas. Fique líquido por decisão própria e não por derretimento;

2. Seja patriota
Verde & amarelo são cores fortes para enfrentar a crise: US$ e ouro;

3. O prazo
Historicamente este tipo de crise dura pelo menos cinco anos. Tenha paciência e não se impressione com eventuais subidas. São os tubarões mandando o recado: comprem, a crise acabou. Compre e tome até encostar;

4. O que comprar
Acompanhe as relações P/L de ações de segmentos menos afetados pelas crises, sempre houve e sempre haverá segmentos mais resistentes. Dê preferência para empresas cujas políticas ofereçam mais dividendos; é claro que a recessão diminuirá seus lucros e conseqüentemente seus dividendos, mas, sempre vale a pena nestas horas difíceis;

5. Mantenha seu emprego
Não caia na tentação de mudar de emprego. Mantenha-se fiel ao seu empregador, converse francamente com ele e tente auscultar as dificuldades a curto e médio prazo. Lembre-se que em épocas recessivas, e já vivi várias, é melhor pingar do que secar;

6. Corte gastos
Aumente a recessão, não gaste. Poupe cada centavo que puder e invista em ações de empresas sérias. Estas, as sérias, assim como as pessoas igualmente sérias, tendem a sair mais rapidamente da turbulência por uma única e simples razão: inspiram confiança;

7. Não compre a prazo
Não compre nada a prestações, os juros subirão como foguetes e a indexação voltará antes mesmo do que você se aperceba;

8. Mantenha sua saúde
Faça exercícios e modere na alimentação. Está provado que uma pessoa corretamente alimentada tem raciocínio mais rápido e mais acertado;

9. Fuja dos gerentes de bancos
Os gerentes de bancos vão oferecer grande quantidade de serviços, seguros idiotas e um monte de papéis igualmente idiotas. Não os culpem, eles estarão sendo pressionados pelas suas diretorias para arrancar dinheiro dos clientes a qualquer custo e a qualquer preço. Não os odeie, apenas ignore-os;

10. Fique atento
As crises não tem dia e nem tampouco hora para terminar. Elas apenas começam a esvair-se sem que você se aperceba é no início da subida que se ganha dinheiro, no começo da onda 3. A onda 1 é traiçoeira...

Finalmente, antes que perguntem: há tempos vinha argumentando com meus amigos que a bolha estava prestes a explodir. Errei no tempo, não no fato. Fiz o que minha experiência determinou: vendi todos os ativos e comprei ativU$. Ainda estou perdendo porquanto o preço que paguei pelas verdinhas ainda não foi atingido, mas, pelo menos estou líquido e à espera de boas oportunidades.

E em último, mas não por último, fica meu conselho: - A crença nos governantes é o caminho mais curto para a desgraça.

Keep it cool and running

JOSEPH STIGLITZ: SEM MEIAS PALAVRAS - "a crise só está no início"...

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fonte: www.hsm.com.br - Autor- Alexandre Delfino

Prêmio Nobel de Economia é crítico severo do neoliberalismo. Ao analisar a crise americana, defende a redefinição de um sistema regulatório que, inclusive, impeça que os incentivos aos executivos de instituições financeiras premiem o que chama de “mau comportamento” e “pilhagem dos consumidores”.
“Os americanos perderam a fé não somente no governo, mas em sua filosofia econômica: um novo assistencialismo empresarial, que é mascarado por uma ideologia de livre-mercado”.
Essa é apenas uma das inúmeras contundentes afirmações que Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001 e palestrante da ExpoManagement 2008 da HSM, usa para avaliar o desempenho questionável das autoridades americanas diante da tsunami econômica que atingiu os Estados Unidos.
O Tio Sam está enfermo e o mundo todo está em guarda. “Há um tempo, nos disseram que estava tudo bem. Seis meses depois, que a economia estava melhorando. Agora, que o paciente precisa de uma grande transfusão. Mas todo mundo vê que o paciente sofre é de hemorragia interna”, disse Stiglitz em sua coluna de 1º de outubro no jornal inglês The Guardian.
De fato, quase todo mundo vê. Não é à toa que 74% dos americanos rejeitam a política econômica de George Bush. Mas Stiglitz não é só mais um crítico implacável de uma situação evidentemente grave. Ele também oferece sua receita de solução. Além disso, contrário ao fundamentalismo de livre-mercado, o economista foi um dos que anteviram o risco que os Estados Unidos corriam. E acertaram.
“Monstruoso.” Sem meias palavras, assim Stiglitz adjetiva o plano de socorro ao setor bancário, em entrevista concedida ao jornal Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung. Para ele, o plano que Bush tenta aprovar no congresso americano perversamente transfere o problema para o contribuinte americano. Segundo Stiglitz, o filme é praticamente uma reprise. Há cerca de dez anos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Tesouro americano tentaram ajudar o
Brasil, a Argentina, a Coréia, a Tailândia, a Indonésia e a Rússia. Embora Wall Street tenha se salvado, recebendo de volta quase tudo o que perdera, nós, os contribuintes desses países, pagamos pelos erros do mercado financeiro. Para o economista, agora a conta pode sobrar para o povo americano. É o que faz a diferença nessa peleja entre Bush e os parlamentares americanos.


Pela intervenção na economia
Stiglitz considera ser necessário um pacote de forte estímulo à economia, de modo a aumentar os benefícios aos desempregados e a ajuda aos estados, que correm o risco de ter que cortar gastos, o que pioraria a situação. “Precisamos de mais investimentos tanto no setor público quanto no privado”, diz no The Guardian.
O economista é conhecido mundialmente pelas severas críticas que faz à teoria do laissez faire (deixai fazer), o mote do liberalismo defendido por Adam Smith no século XIX. O laissez faire virou fundamentalismo de livre-mercado na boca de George Soros, ou neoliberalismo. Segundo Smith, a economia de mercado opera sob uma mão invisível, que promove o equilíbrio socioeconômico e orienta os indivíduos, em condições ideais. Raro, contudo, é que as condições sejam ideais. À época em que recebeu o Prêmio Nobel, Stiglitz não se furtou a comentar que as doutrinas neoliberais baseavam-se em erros de interpretação das teorias econômicas. Foi justamente derrubando Adam Smith que Stiglitz se fez merecedor do Nobel (veja mais detalhes ao final deste artigo).
JOSEPH STIGLITZ: SEM MEIAS PALAVRAS
Como a maioria dos republicanos conservadores, Bush é contrário às intervenções na economia. Teve que dar o braço a torcer, contudo. Ao apelar ao congresso, justificou-se: "Eu tenho profunda crença nas trocas comerciais livres, por isso me oponho a qualquer intervenção do governo. Mas essas não são circunstâncias normais”.
Em entrevista ao jornal The Huffington Post, Stiglitz afirmou que a crise em Wall Street é para o fundamentalismo de mercado o que foi a queda do muro de Berlim para o comunismo: “Ela diz ao mundo que esta maneira de organização econômica não se sustenta. Este momento é um marco do fato de que as demandas pela liberalização do mercado financeiro foram equivocadas”.

A hora do mea culpa

Stiglitz considera que é relevante ir a fundo às causas da crise, de modo que se possa evitar ou amainar novas crises. Em sua opinião, falharam os reguladores federais, como o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), mas também os executivos das instituições financeiras estão no cerne do problema.
O Fed teria falhado como regulador e como condutor da política monetária. “Seu excesso de liquidez (o dinheiro disponível para empréstimos a baixas taxas de juros) e os regulamentos frouxos levaram a uma bolha da habitação. Quando a bolha estourou, os empréstimos excessivamente alavancados e feitos em cima de ativos superavaliados, se deterioram”, explica Stiglitz. Historicamente, a expansão acelerada dos empréstimos tem sido responsável por uma grande parcela das crises e esta não é exceção, segundo ele.
Além disso, para o economista, o próprio Alan Greenspan, um regulador-chave, não acredita na regulação. “Nosso país sofreu as conseqüências de ter escolhido como regulador-chefe da economia alguém que não acreditava na regulação”, observa. “Quando os excessos no sistema financeiro foram notados, eles apelaram para a auto-regulação, o que é um paradoxo.” Greenspan presidiu o Fed entre agosto de 1987 e janeiro de 2006.
Após o problema da bolha tecnológica, que levou ao corte de juros de 2001, e o aumento do preço do petróleo, decorrente da Guerra do Iraque, que fez com que o dinheiro que era gasto em bens americanos fosse para o exterior, o Fed, na tentativa de manter a economia funcionando, teria, na visão de Stiglitz, substituído a bolha tecnológica pela bolha da habitação. “A poupança doméstica caiu para zero, ao nível mais baixo desde a Grande Depressão. O Fed conseguiu manter a economia, mas de maneira míope. Os Estados Unidos estavam sobrevivendo de dinheiro emprestado e de tempo emprestado”, avalia Stiglitz.
Quanto à culpa que cabe aos executivos das instituições financeiras, o caso seria relativamente simples e, talvez, óbvio: esses profissionais e seus empregadores eram premiados pelo desempenho de curto prazo, por meio de incentivos que não estavam alinhados com as necessidades da sociedade. “Eles eram muito bem remunerados por administrar riscos e alocar capital, o que deveria aperfeiçoar a eficiência da economia de modo tal que justificasse sua generosa remuneração. Mas eles erraram ao alocar o capital e ao gerir o risco. Eles geraram riscos.” Para Stiglitz, a estrutura de incentivos encorajava a assunção excessiva de riscos:
“Construímos incentivos para o mau comportamento e atingimos o objetivo”.

Redefinindo o sistema regulatório
“Precisamos, claramente, não apenas de regulação, mas de uma redefinição do sistema regulatório”, defende o economista, não se furtando a apontar caminhos. Para isso, Stiglitz considera um pré-requisito a atuação de políticos e criadores de políticas que acreditem na regulação.

JOSEPH STIGLITZ: SEM MEIAS PALAVRAS
Ele também postula que se deva implantar um sistema que possa lidar com a expansão dos instrumentos financeiros e das finanças. Algumas de suas recomendações foram elencadas em seu artigo do site da rede CNN:
1. Corrigir os incentivos aos executivos, atenuando os incentivos por assunção excessiva de riscos e por foco no curto prazo. Bônus sobre retorno em cinco anos, por exemplo, em vez de sobre o retorno em um ano, contribuiriam para tanto.
2. Aperfeiçoar as informações aos acionistas a respeito da diluição do valor das cotas em função de opções de ações, pois as opções de ações encorajam a contabilidade desonesta e precisam ser freadas.
3. Criar uma comissão para a segurança do produto financeiro, de modo a garantir que os produtos comprados e vendidos pelos bancos, fundos de pensão etc. sejam seguros para o “consumo humano”.
4. Criar uma comissão de estabilidade dos sistemas financeiros, para monitorar o sistema financeiro como um todo, reconhecendo as inter-relações entre as diversas partes e evitando a alavancagem excessiva.
5. Impor outros controles para aperfeiçoar a segurança e a saúde do sistema financeiro, que atuem como radares limitadores dos empréstimos.
6. Melhorar leis de proteção ao consumidor, incluindo leis que impeçam o empréstimo predatório.
7. Melhorar leis de concorrência.
A respeito da concorrência, Stiglitz não suaviza as tintas: “As instituições financeiras foram capazes de pilhar os consumidores devido à falta de concorrência. Não podemos nos ver em situações em que uma empresa ‘é muito grande para falir’. Se é grande assim, deve ser dividida”.

Mais sobre Stiglitz e suas idéias
Joseph E. Stiglitz é professor de Economia da universidade da Colúmbia. Foi economista-chefe e vice-presidente do Banco Mundial na administração Clinton, além de presidente do Council of Economic Advisers, no mesmo período. Hoje, apóia a candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos.
Stiglitz fez parte do grupo de especialistas em mudanças climáticas que compartilhou o Prêmio Nobel da Paz em 2008. É co-autor, com Linda Bilmes, de Three Trillion Dollar War: The True Costs of the Iraq Conflict.
É um crítico severo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Afirma que a instituição pressiona os países pobres à concorrência internacional sem que antes tenham desenvolvido a devida proteção democrática aos seus cidadãos.
Em 2001, recebeu o Prêmio Nobel de Economia (junto com George Akerlof, da Universidade da Califórnia, e Michael Spence, da Universidade de Stanford) por uma teoria que chama a atenção para as desigualdades entre ricos e pobres e que põe por terra a teoria da mão invisível de Adam Smith: “A razão pela qual a mão invisível é invisível é por que ela não existe ou, quando existe, está paralítica”, disse, em aula magna que ministrou ao receber o prêmio.
Stiglitz é um pioneiro da teoria da informação assimétrica, que postula que as partes de uma transação não têm igualdade de informações. Um dos lados estará em desvantagem, pois informação é poder. Essa idéia contradiz antigas teorias econômicas, que se baseiam na existência de informações perfeitas. A teoria da informação assimétrica põe em xeque a sabedoria do mercado e auxilia a compreender muitos fenômenos, inclusive o desemprego e o racionamento de crédito.

 

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