Sinais de bolha financeira.

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Ao ler uma reportagem na Folha de São Paulo de hoje (18/10/07) me deparo com uma constatação microeconômica interessante. Nos países desenvolvidos o crédito finaciado aproxima-se de 100% do PIB ou mesmo superior a tal percentual. No Brasil, nos últimos anos, este valor se aproxima de 33% - valor 62% ao financiado a cinco anos atrás- do PIB. Pensaríamos, parafrasiando o ministro Mantega, "isso é consequência do desenvolvimento País... ou isso demonstra o aumento da capacidade de consumo"...

O que me preocupa é uma realidade paralela onde a taxa de emprego cresceu muito, muito pouco em relação aos verificado a 10 anos atrás. Não me venham com a criação de novas vagas e frentes de trabalho por que, pra mim, estatística válida é a de número de empregados para cada 1000 habitantes produtivos em território nacional (dado que não se divulga na grande mídia).

Por mais uma faceta do prisma salienta-se o assunto mais batido entre os economistas, trata-se da maldita taxa de juros que não se reflete nos crediários e empréstimos bancários. Estes, por fórmulas mágicas e com base em altos índices de risco, calculam tabelas de amortização onde, a dívida, torna-se impagável para um cidadão comum. Resultado: alta disponibilidade de capital para empréstimo associado a alta inadimplência - não por desonestidade mas por incapacidade de quitação de débito, igual a BOLHA!!!!


Para quem quer, segue a reportagem que inspirou esta reflexão:


Quem quer dinheiro!?



Qualquer país civilizado e estável exibe um volume de empréstimos aos consumidores e empresas elevado como proporção do PIB.
Na média do G7 (os sete países mais ricos), essa relação é de 120%. Ou seja, empresta-se ao setor privado 20% a mais do que toda a riqueza que esses países produzem. Na Coréia do Sul, de 100%. No Chile, de 70%.
Raimundo Pacco/Folha Imagem
Consumidores procuram eletrodomésticos em loja de São Paulo
Em termos de financiamento ao setor produtivo e ao consumo, o Brasil está na pré-história. Nossa relação é de 33% do PIB. Acima dos 21% de cinco anos atrás, mas ainda muito baixa.
Há atualmente uma certa euforia no mercado de crédito por conta dessa "avenida" que o Brasil tem pela frente para ampliar a oferta de crédito à sociedade. A expectativa é que esse mercado cresça 25% só em 2007, superando os R$ 510 bilhões.
Mas o caso brasileiro requer cuidado dobrado. Os consumidores já podem estar dando um passo maior do que as pernas e perdendo grandes somas ao acreditar nesse maná de dinheiro fácil oferecido por empresas ávidas de lucros.
Ocorre que o Brasil ainda pratica as mais escorchantes taxas de juro do mundo. Mesmo para os empréstimos vinculados a descontos em folha de pagamento (o chamado consignado), as taxas são muito altas se for levado em conta o risco de calote --que só ocorre se o tomador do empréstimo perder o emprego ou morrer.
Reportagem do "Estado de S.Paulo" no domingo mostrou que 60% do orçamento dos brasileiros de baixa renda já está comprometido com dívidas, e que 72% da população mais pobre parcela suas compras.
Boa parte desse pessoal não se endivida porque quer, mas por não ter outra saída para atravessar o mês. Mas também existe grande parcela que vem recorrendo ao crediário para antecipar compras que poderiam esperar, especialmente na classe média.
Com os juros atuais, é muito fácil o consumidor acabar pagando dois eletrodomésticos no crediário e levar um. O outro fica para a loja, em forma de juros.
Os bancos e financeiras têm uma série de argumentos técnicos para justificar os juros estratosféricos no Brasil. Mas eles colam cada vez menos dada a estabilidade econômica que vai se sedimentando. Por outro lado, os lucros bancários não param de subir. Há ainda algo de muito errado, distorcido e obscuro nessa área.
Cobrar o mesmo preço por um produto em 12 vezes ou à vista e oferecer "cartões de crédito" sem crédito, mas pré-pagos (e cobrar mensalidades por isso!), são algumas das modalidades já conhecidas, novas e absurdas de nosso mercado.
Não é à toa que o Brasil ainda está muito atrás de outros países em volume de crédito, o maior motor de qualquer economia avançada.
É o preço do atraso, da estabilização tardia e do capitalismo ainda fingido de nossas empresas e bancos.
Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras. E-mail: fcanzian@folhasp.com.br


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